Olá, colegas da Casa da Química!
Apesar de parafrasear Chalmers¹ no título dessa postagem, minha intenção aqui não é fazer um histórico das visões de ciência, como ele faz em seu livro (se tornaria meio chato de se ler e, para mim, cansativo de escrever). Minha provocação, porém, vai em outro caminho...
É comum, na academia, um certo "bairrismo" com as áreas de pesquisa. Esse sentimento bairrista faz com que algumas pessoas tomem suas áreas como as mais completas, infalíveis e perfeitas e, diante disso, menosprezem as demais. Um discurso clássico desse bairrismo são frases como: "a Química é linda!" ou "A Física explica qualquer coisa", ou ainda "A Biologia é a mãe de todas as ciências". É um tipo de discurso que me incomoda demais, pois nenhuma ciência caminha com os próprios pés e nenhuma dá conta de explicar todos os fenômenos da natureza sozinha. Mas, ainda não é este o ponto. Quero ir além...
Nesse contexto em que alguns acham que uma área do conhecimento é maior ou mais importante que outra, surge outro embate: ciências exatas x ciências humanas ou, pra ser mais exato: o que é ciência e o que não é ciência. É comum você escutar de alguns pesquisadores da área de exatas, frases do tipo: "esse povo de humanas não estuda" ou "o que esse povo faz, não é ciência". Certa vez, escutei de um ex-professor meu: "Um colega meu era tão preguiçoso que saiu do curso de Química e foi fazer Filosofia" (eu era um mero graduando, e não pude argumentar). Não quero "pintar" o pessoal de exatas de vilão. Afinal, existe um "contra-ataque". Se você for para a área de humanas, pode escutar frases como: "Esse povo de exatas é muito cartesiano" (como se isso fosse ruim). E aí, a pergunta que surge é: tem alguém certo nessa história? eu digo que NÃO. Até porque, muitas dessas críticas exemplificadas aqui (e aí, uso minha experiência vivida) são feitas por pessoas que não conhecem a área que está criticando. Dizer, por exemplo, que alguém da área de humanas não "faz ciência" só demonstra um desconhecimento total dos materiais e técnicas usadas nas coletas e análise de dados típicos das ciências humanas (e o rigor das análises, sejam qualitativas ou quantitativas). Assim como alguém que diz que um pesquisador da área de exatas é "muito cartesiano"(em tom de crítica) reflete que não conhece as contribuições de Decartes para Ciência. Obviamente, não quero dizer que aberrações não existem... sim.. tem gente da área de humanas que só enrola e não faz pesquisa... e, sim, tem gente da área de exatas que tem uma visão tão reducionista, que acha que sua tese vai salvar o mundo. Mas, convenhamos, pesquisa de má qualidade e pesquisadores charlatões existem em qualquer área do conhecimento.
Para não me estender mais: você criticar uma área do conhecimento que não conhece, demonstra, no mínimo, uma ingenuidade acadêmica. Nenhuma área é maior que outra. Todas tem sua importância e contribuem para construção do conhecimento... o método científico não é único... existe uma infinidade de técnicas de coleta e análise de dados, que vão variar com o objeto de estudo. Tudo não se resume à lógica indutivista... e sim, seja da área de humanas ou exatas, todos fazemos CIÊNCIA.
Saudações!
¹CHALMERS, A. F. O que é ciência afinal? São Paulo: Brasiliense, 1993.
(para responder a pergunta do post, sugiro a leitura do livro... nem em 1000 posts conseguiria respondê-la em sua completude).